“À margem”

24-02-2011 22:09

  

Triste caminheiro

Que percorres a passo lento

As ruas na noite escura;

Vacilas, teu andar é incerto

Ao dobrar de cada esquina.

Teu íntimo vai abalado

Como se para ti

O mundo houvesse acabado.

Tal como tantos és vítima

Do mundo que te gerou

Deste mundo sem sentido

De egoísmo vestido

A exibir sua vaidade

Da cabeça até aos pés.

Quem passa, olha-te

Sorri, lamenta-te:

“É um fraco, um infeliz

Um tristezeco, um nada

Um Zé-Ninguém…”

Todos se afastam de ti

E te tratam com desdém

Pelo que pensam que és:

Um pária da sociedade.

Insensíveis, ignorantes

Vazios de todo o saber

Não passam de reles pedantes

Com pretensões a querer ser…

Suportas em silêncio

As causas da tua dor

Dor que não se apalpa

Dor que não se vê

Essa dor que só sentem

Aqueles que amor não tiveram

Não te deixando viver

Os sonhos da tua infância

Sonhos que o berço embalou…

………

Abram-lhe as portas da vida!

Façam-lhe justiça

Que ele é vítima inocente

Dos que não sabem que o sonho

É o tesouro maior

Do homem que nasceu pobre.

Deixai-o viver!... Sonhar!...

Que o sonho é a maior riqueza

Que todo o vosso dinheiro

Não chega para comprar!

…………..

Mal eles sabem quanto vales

Caminheiro da noite escura

Que sorrindo intimamente

Continuas pela rua;

Chegas à esquina, dás a volta

Sem saberes que a noite é tua

Sem saberes que a noite é alta!

 

Gabriel Rito

Fevereiro de 1973