“Preso e desprezado”

24-02-2011 22:01

  

Está acorrentado

Ferido, esfarrapado

De fome e frio sofrendo

Na cela encarcerado.

 

Olha para a fresta

Que embora estreita

Está gradeada

Cegando-o a luz que espreita.

 

Olha em redor

Sem nada ver:

Apenas cortina escura

Que não o deixa viver.

 

Tenta, mas em vão

Encontrar a saída

E da escuridão

Fugir para a vida.

 

Do pesadelo, acorda:

É ânsia que não tem fim…

“De que serve ir para a vida

Se é dos outros, não de mim?!”.

 

De que lhes vale

Terem-no acorrentado

Se ele foi vítima de um erro

Que por ele não foi criado?

 

Ergue os seus braços

E o rosto molhado

Pedindo com voz rouca

Ao seu Deus amado

Justiça para a dor louca.

 

Acorda, acorda

E não queiras mal

A este pobre mundo

Que o errar dos homens

Tornou tão desigual!

 

Gabriel Rito

Outubro de 1972