“Preso e desprezado”
Está acorrentado
Ferido, esfarrapado
De fome e frio sofrendo
Na cela encarcerado.
Olha para a fresta
Que embora estreita
Está gradeada
Cegando-o a luz que espreita.
Olha em redor
Sem nada ver:
Apenas cortina escura
Que não o deixa viver.
Tenta, mas em vão
Encontrar a saída
E da escuridão
Fugir para a vida.
Do pesadelo, acorda:
É ânsia que não tem fim…
“De que serve ir para a vida
Se é dos outros, não de mim?!”.
De que lhes vale
Terem-no acorrentado
Se ele foi vítima de um erro
Que por ele não foi criado?
Ergue os seus braços
E o rosto molhado
Pedindo com voz rouca
Ao seu Deus amado
Justiça para a dor louca.
Acorda, acorda
E não queiras mal
A este pobre mundo
Que o errar dos homens
Tornou tão desigual!
Gabriel Rito
Outubro de 1972