“Um desconhecido”
Vem vagaroso
Vem esperançoso
Vem de fome sofrendo
Seu aspecto é curioso.
Aos olhares de toda a gente
Passo a passo pela rua
Vai vacilando o demente
À procura da razão
De poder também ser gente.
Da plateia dos passeios
Vão passando indiferentes
Olhando o palco, onde o coitado
Actua, triste e ausente.
Muitos, rindo, vêem nele
Um simples farrapo humano
Pelo seu cambalear
Pelos farrapos que o cobrem
Pelo triste lamentar
Atirando-lhe sem receio
Graças duras…
Continua caminhando
Com a cabeça pendente
Passo a passo pela rua
À procura de ser gente…
Gabriel Rito
Outubro de 1972